terça-feira, novembro 18, 2014

Boa comunicação


O surto de legionella pôs em evidência que a forma como as autoridades comunicam, condiciona o comportamento dos media.

Ao traçar desde logo um cenário em que se previa um agravamento da situação, os responsáveis pela saúde pública esvaziaram as notícias alarmistas e transmitiram confiança aos cidadãos. Simultaneamente, ao destacarem as medidas de prevenção, demonstraram que o combate ao surto era tarefa de todos, inclusive dos meios de comunicação.

A honestidade na comunicação é o segredo na relação com os media. Admitir que nem tudo está controlado não é sinal de fraqueza, se essa for de facto a realidade. Muitos políticos esquecem-se que "uma mentira esconde-se com outra mentira" e que uma espiral de mentiras leva ao caos na comunicação.

No caso da legionella estiveram bem as autoridades e os profissionais de saúde em matéria de comunicação. Admitiram desde logo que enquanto não fosse identificado o foco do surto, não haveria solução; que o número de vítimas iria aumentar e que dependia do comportamento de cada um evitar a contaminação.

Os jornalistas, no início, foram apanhados de surpresa com tanta sinceridade: Alguns procuraram contradições no número de vítimas, outros ainda tentaram atirar suspeitas de "mão humana", depois acabaram por perceber que "se nada está escondido, nada há para encontrar".

A necessidade de evitar o alarme foi entendida, não apenas pela administração de saúde, mas também pela oposição, que embora acompanhassem o evoluir da situação evitaram lançar dúvidas sobre a ação das autoridades. Mas nem todos os políticos perceberam o que estava em jogo. Desde logo o ministro do Ambiente, que na primeira comunicação que faz, alerta para "crime ambiental". Numa altura em que a incerteza ainda era muita, a afirmação do governante abria a porta à especulação – e ao descontrolo da estratégia de comunicação tão bem trabalhada pela administração da saúde.

O caso da legionella mostrou que as autoridades podem trabalhar em conjunto com os jornalistas, para evitar o alarme social, sem que isso signifique fazer favores políticos, ou pressionar os órgãos de comunicação. Criar zonas de sombra e incerteza na comunicação leva à especulação já uma comunicação honesta e franca não só é mais eficaz, como afasta aqueles que usam a desinformação para baralhar. Talvez alguns assessores possam tirar daqui uma lição.