“Frequentemente o trabalho de um jornalista já não consiste em dar conta da realidade, mas em transpô-la para o mundo da representação. Este fenómeno levou-nos a ver a imprensa, já não como uma das peças do nosso sistema, mas como um universo em si, autónomo, com os seus códigos, a sua linguagem, as suas verdades.
Independentemente da opinião que tenha sobre os jornalistas, a mais ínfima das associações assume em geral como primeiro objectivo conseguir uma ‘cobertura mediática’. Em resumo, todos sabem que os jornais reflectem menos a realidade do que a representação que criaram, mas na verdade todos querem marcar aí presença. ‘Passar na televisão’ passou a ser uma etapa aceite como necessária para ‘existir’.
Para ter o direito a existir nesse mundo é preciso entrar no domínio do espectacular. A existência passa pela aceitação do tornar-se virtual. As razões pelas quais alguém se torna ‘visível’, talento ou competência, são frequentemente reais, mas quem for distinguido pelos media passa a ter direito a dizer ou a fazer qualquer coisa. Atravessado o vau, cada qual ganha um peso, uma autoridade que lhe dá o direito de aparecer em qualquer situação”.
Florence Aubenas, jornalista do Libération