A Geração Z entra no mercado de trabalho com a mesma pressa com que desliza o dedo no ecrã de um smartphone: rápida, inquieta, ávida de movimento. O relatório da Randstad mostra que estes jovens permanecem, em média, apenas 1,1 anos em cada emprego — um tempo que choca as empresas ainda agarradas ao mito da “lealdade” como valor absoluto. Mas será deslealdade ou apenas um reflexo de um mundo que já não oferece percursos lineares nem carreiras previsíveis?
O que o estudo revela é que os jovens mudam não por desinteresse, mas por ambição. O problema não está na vontade de progredir, mas na falta de oportunidades de entrada e de progressão clara. Desde 2024, as vagas para funções júnior caíram quase 30%, com particular severidade na tecnologia, nas finanças e na logística. A mensagem que o mercado envia é contraditória: exige talento fresco, mas fecha as portas de acesso.
A isto soma-se a sombra da Inteligência Artificial. Se 55% dos Gen Z já recorrem à IA para resolver problemas no trabalho e 75% a utilizam para aprender novas competências, quase metade teme que a mesma tecnologia lhes roube o futuro. É um paradoxo cruel: o instrumento que poderia acelerar carreiras surge também como ameaça. E as desigualdades no acesso à formação, sobretudo entre géneros, ampliam essa ansiedade.
Há quem olhe para esta rotatividade juvenil como sinal de fragilidade. Eu vejo o contrário. Esta geração é, talvez, a mais pragmática de sempre. Cresceu na incerteza e aprendeu cedo que a lealdade unilateral não garante nada. Trabalham bem — 68% esforçam-se por cumprir as funções — mas não hesitam em partir quando sentem que não há lugar para crescer. Não é falta de compromisso, é recusa em desperdiçar tempo.
O desafio não está, portanto, na Geração Z. Está nas empresas que insistem em olhar para estes jovens como problema em vez de como oportunidade. Enquanto continuarmos a exigir-lhes paciência num mercado que já não a recompensa, continuaremos a perder talento para o ciclo da rotatividade.
O que está em jogo é mais profundo: estamos perante a primeira geração verdadeiramente nativa digital a confrontar a precariedade estrutural e a aceleração tecnológica em simultâneo. A forma como lidarmos com a sua ambição dirá muito sobre o futuro do trabalho.