quinta-feira, setembro 18, 2025

Geração Z: a ambição que desafia o mundo do trabalho

 

A Geração Z entra no mercado de trabalho com a mesma pressa com que desliza o dedo no ecrã de um smartphone: rápida, inquieta, ávida de movimento. O relatório da Randstad mostra que estes jovens permanecem, em média, apenas 1,1 anos em cada emprego — um tempo que choca as empresas ainda agarradas ao mito da “lealdade” como valor absoluto. Mas será deslealdade ou apenas um reflexo de um mundo que já não oferece percursos lineares nem carreiras previsíveis?

O que o estudo revela é que os jovens mudam não por desinteresse, mas por ambição. O problema não está na vontade de progredir, mas na falta de oportunidades de entrada e de progressão clara. Desde 2024, as vagas para funções júnior caíram quase 30%, com particular severidade na tecnologia, nas finanças e na logística. A mensagem que o mercado envia é contraditória: exige talento fresco, mas fecha as portas de acesso.

A isto soma-se a sombra da Inteligência Artificial. Se 55% dos Gen Z já recorrem à IA para resolver problemas no trabalho e 75% a utilizam para aprender novas competências, quase metade teme que a mesma tecnologia lhes roube o futuro. É um paradoxo cruel: o instrumento que poderia acelerar carreiras surge também como ameaça. E as desigualdades no acesso à formação, sobretudo entre géneros, ampliam essa ansiedade.

Há quem olhe para esta rotatividade juvenil como sinal de fragilidade. Eu vejo o contrário. Esta geração é, talvez, a mais pragmática de sempre. Cresceu na incerteza e aprendeu cedo que a lealdade unilateral não garante nada. Trabalham bem — 68% esforçam-se por cumprir as funções — mas não hesitam em partir quando sentem que não há lugar para crescer. Não é falta de compromisso, é recusa em desperdiçar tempo.

O desafio não está, portanto, na Geração Z. Está nas empresas que insistem em olhar para estes jovens como problema em vez de como oportunidade. Enquanto continuarmos a exigir-lhes paciência num mercado que já não a recompensa, continuaremos a perder talento para o ciclo da rotatividade.

O que está em jogo é mais profundo: estamos perante a primeira geração verdadeiramente nativa digital a confrontar a precariedade estrutural e a aceleração tecnológica em simultâneo. A forma como lidarmos com a sua ambição dirá muito sobre o futuro do trabalho.

Geração Z: Preguiçosa ou Lúcida?

 

A Geração Z está a recusar o modelo laboral tradicional. Lucidez estratégica ou preguiça? Uma reflexão sobre trabalho, liderança e mudança geracional.

A ideia de que “os jovens já não querem trabalhar” repete-se com a segurança de um provérbio. Diz-se nas redações, nas empresas e até nas entrevistas de líderes empresariais que ainda não perceberam que o mundo do trabalho mudou mais nos últimos dez anos do que em todo o último século. Mas será mesmo desinteresse? Ou será lucidez?

Quem hoje tem vinte e poucos anos cresceu num país em crise quase permanente, viu pais desempregados, familiares emigrados, contratos rasgados e empresas que prometiam carreiras e deixaram dívidas. Entraram no mercado de trabalho a recibos verdes ou em estágios prolongados, num ambiente onde palavras como “progressão” ou “estabilidade” soam mais a piada do que a promessa. E é neste cenário que lhes exigem entrega, entusiasmo e camisolas vestidas.

Curiosamente, quem os acusa de “falta de ambição” são muitas vezes os mesmos que, nas últimas décadas, promoveram uma cultura empresarial baseada em cortes, precariedade e discursos motivacionais de PowerPoint. Esquecem-se que a lealdade se constrói com exemplo, e que nenhum colaborador vai dar mais do que aquilo que recebe — não apenas em salário, mas em respeito, propósito e futuro.

Nas redes sociais e nas conversas de corredor, já se usa o termo em inglês: quiet quitting. Mas não se trata de desistência — trata-se de um novo contrato psicológico. Um pacto silencioso: trabalho sim, mas até onde fizer sentido. Produção, sim, mas com limites. Compromisso, sim, mas não incondicional. Muitos gestores não sabem lidar com isto. Acusam os jovens de falta de empenho, quando o que realmente enfrentam é a consequência direta de uma liderança incapaz de inspirar ou dar rumo.

A verdade é esta: muitos dos que hoje ocupam cargos de chefia continuam presos a modelos de gestão baseados na autoridade, no controle e na chantagem emocional. Confundem exigência com arrogância, confundem lealdade com servilismo. Talvez esteja na hora de se falar — com seriedade — de formação e requalificação profissional. Não para os jovens, mas para alguns líderes. Aqueles que ainda acreditam que uma entrevista de emprego serve para testar submissão, ou que um ordenado baixo se compensa com “bom ambiente”.

Sim, há jovens desinteressados, como sempre houve. Mas há, também, uma geração inteira que não está disposta a sacrificar a saúde mental, os relacionamentos e os seus próprios valores por uma empresa que não sabe onde vai estar amanhã. Não é comodismo. É cálculo. É inteligência emocional aplicada ao mundo laboral.

A questão, portanto, já não é se a Geração Z está preparada para o mercado de trabalho. A verdadeira questão é se o mercado — e muitos dos que o lideram — estão preparados para uma geração que não tem medo de dizer que o rei vai nu.

 

(artigo publicado originalmente em www.empreendedor.com)