terça-feira, julho 15, 2025

IA e universidades: regressar à Academia, não ao claustro

 

Na sua coluna publicada no El Mundo a 13 de julho de 2025, o historiador Niall Ferguson alertou para o impacto destrutivo da inteligência artificial no ensino superior. O diagnóstico é certeiro: a proliferação de ferramentas como o ChatGPT está a corroer as bases do pensamento académico, transformando a universidade num espaço de produção automática e não de formação intelectual. Mas a solução que propõe — um modelo dual entre um “claustro” analógico e uma “nave” digital — erra no essencial: o problema da universidade contemporânea não é o excesso de IA, é o défice de pensamento vivo.

A geração universitária atual não escreve menos apenas porque tem IA — escreve menos porque já pensava pouco antes disso. A tecnologia apenas acelerou um processo de desvalorização do debate, da dúvida e do esforço argumentativo. O que falta nas universidades não é isolamento digital, mas reconexão com o espírito da Academia de Platão: aprender caminhando, dialogando, contrariando com inteligência.

Sim, o uso da IA tornou obsoletos os trabalhos escolares tradicionais. Mas isso só reforça a urgência de reinventar os métodos pedagógicos. Em vez de testes de repetição, o ensino deve promover a formulação de perguntas, a construção de hipóteses e o confronto de ideias. A escrita continua a ser essencial — mas como consequência do pensamento, não como substituto dele.

A proposta de Ferguson, publicada originalmente em inglês no The Times (4 de julho), é provocadora e útil para reacender este debate. Mas transformar universidades em simulacros de mosteiros não devolverá aos estudantes o que perderam. O que pode, sim, devolver-lhes é a palavra partilhada — esse gesto antigo, mas insubstituível, que ainda distingue o humano do automatizado.