Na sua
coluna publicada no El
Mundo a 13 de julho de 2025, o
historiador Niall Ferguson alertou
para o impacto destrutivo da inteligência artificial no ensino superior. O
diagnóstico é certeiro: a proliferação de ferramentas como o ChatGPT está a
corroer as bases do pensamento académico, transformando a universidade num
espaço de produção automática e não de formação intelectual. Mas a solução que
propõe — um modelo dual entre um “claustro” analógico e uma “nave” digital —
erra no essencial: o problema da universidade contemporânea não é o excesso de
IA, é o défice de pensamento vivo.
A geração
universitária atual não escreve menos apenas porque tem IA — escreve menos
porque já pensava pouco antes disso. A tecnologia apenas acelerou um processo
de desvalorização do debate, da dúvida e do esforço argumentativo. O que falta
nas universidades não é isolamento digital, mas reconexão com o espírito da Academia
de Platão: aprender caminhando, dialogando, contrariando com inteligência.
Sim, o uso
da IA tornou obsoletos os trabalhos escolares tradicionais. Mas isso só reforça
a urgência de reinventar os métodos pedagógicos. Em vez de testes de repetição,
o ensino deve promover a formulação de perguntas, a construção de hipóteses e o
confronto de ideias. A escrita continua a ser essencial — mas como consequência
do pensamento, não como substituto dele.
A proposta
de Ferguson, publicada
originalmente em inglês no The Times (4 de julho), é provocadora e
útil para reacender este debate. Mas transformar universidades em simulacros de
mosteiros não devolverá aos estudantes o que perderam. O que pode, sim,
devolver-lhes é a palavra partilhada — esse gesto antigo, mas insubstituível,
que ainda distingue o humano do automatizado.
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